Professora critica avanço do neoliberalismo na educação
Abertura do EdebFop foi marcada pela defesa do magistério e de sua importância social

A padronização /homogeneização curricular, a tecnificação do trabalho, a desintelectualização do professor e a formação tecnicista são aspectos de um modelo tecnoburocrático da educação que provoca a ampliação para menos da função social da escola. Essas foram considerações da professora Sandra Valéria Limote, durante a conferência de abertura do I Encontro de Debates sobre Educação Básica e Formação de Professores do Centro-Oeste (EdebFop), que teve início na manhã desta terça-feira, 10, no Câmpus Aparecida de Goiânia.
Sandra, que é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, proferiu a conferência “Educação pública como espaço de referência para a formação inicial e continuada de professores”, que teve a mediação do professor Rafael Gonçalves Borges, do Câmpus Goiânia do IFG. Ela chamou a atenção dos ouvintes para o avanço do neoliberalismo na educação e suas implicações nas condições concretas em que se formam e trabalham os professores.
Segundo ela disse, o avanço do neoliberalismo na educação já fora identificado por Paulo Freire, na década de 1990, e vem se ampliando a partir das orientações de organismos internacionais para a educação nos países em desenvolvimento. “As políticas de formação e de organização do trabalho estão sendo cooptadas por esses organismos”, afirmou.
Pragmatismo
Sandra citou especificamente o Banco Mundial e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como organismos que contribuem para a ampliação para menos do papel social da escola nos países em desenvolvimento. E disse que todos os programas e projetos de formação de professores orbitam em torno das ideias e orientações dos grandes estudos desses organismos internacionais.
Segundo ela, as instituições públicas de ensino resistem parcialmente às concepções/orientações neoliberalizantes, mas não é possível resistir a tudo, porque o modelo instituído está assentado nelas. Citando várias leis em vigor no Brasil e especialmente a reforma do ensino médio, de 2017, Sandra afirmou que o conhecimento é sempre colocado em questão. “A ênfase na prática é, na verdade, um pragmatismo, que é contraditório à formação do professor”, enfatizou.
As consequências, conforme os dados apresentados por Sandra, já são danosas. A maioria dos licenciados já são formados em cursos a distância (66,9%) e de instituições privadas (67,1%). O número de jovens ingressantes nos cursos de licenciatura permaneceu estável, na última década, enquanto os ingressantes nos cursos de bacharelado e de tecnologia cresceram significativamente. A desistência nos cursos de licenciatura é de mais de 50%, chegando a 70% na licenciatura em Física.
Resistência
Para Sandra, é preciso questionar as orientações que chegam para os países em desenvolvimento e como as políticas educacionais podem contribuir para manter ou mudar essa neoliberalização da educação.
Antes da conferência de Sandra, a defesa de uma educação contra-hegemônica foi feita durante a solenidade de abertura do EdebFop. A pró-reitora de Ensino do IFG, professora Maria Valeska Viana, utilizou o termo para defender que a educação seja pública, democrática, laica, inclusiva e de qualidade, para permitir uma formação verdadeiramente humana.
Valeska, que na solenidade representou a reitora Oneida Cristina Barcelos Irigon, enfatizou o trabalho que vem sendo desenvolvido na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica na defesa da formação de professores. “Não somos universidades. Os Institutos Federais têm outra institucionalidade e queremos que nossas formações tenham a cara da Rede”, afirmou.
A pró-reitora de Ensino do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) foi a primeira integrante da mesa de abertura a falar e se referiu à educação como meio de transformação da vida. Segundo ela, nos Institutos Federais a resistência é feita todos os dias e é preciso ter sempre em mente que as licenciaturas são importantes para o país.
A pró-reitora de Ensino do Instituto Federal de Brasília (IFB), Rosa Amélia da Silva, afirmou que o Brasil em pouco tempo terá um vácuo no exercício do magistério. “Há pouco interesse em ser professor, por vários motivos, e eu espero que nós saiamos daqui fortalecidos, com mais coragem”, disse.
Também fizeram parte da mesa de abertura a professora Nayra Claudine Colombo, representando a Secretaria Estadual de Educação; a professora Eneida Amorim de Melo, representando a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia e o diretor-geral do Câmpus Aparecida de Goiânia, Eduardo Carvalho de Rezende.
O EdebFop segue até a próxima quinta-feira, com uma programação extensa de conferências, mesas-redondas, minicursos, apresentações de pôsteres e atrações culturais. Na abertura, houve apresentação do grupo de dança Corpo Composto, do Câmpus Aparecida de Goiânia, e do violonista Alessandro Borges de Oliveira, professor da UnB.
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