Entre estrelas e microscópios: pesquisa em Astrobiologia conecta ciência espacial ao cotidiano
Estudantes do curso técnico em Biotecnologia investigam a vida no universo e criam propostas interdisciplinares para tornar o aprendizado mais envolvente

Olhar para o céu e se perguntar “será que estamos sozinhos no universo?” é um gesto comum à humanidade desde seus primórdios. Essa mesma inquietação, que move cientistas das agências espaciais americana e europeia, NASA e AEE, agora também inspira jovens pesquisadoras do Câmpus Formosa do Instituto Federal de Goiás (IFG). No projeto “Astrobiologia – Propostas interdisciplinares no curso técnico de Biotecnologia”, as estudantes Aitana D’arc Paschoal Lima e Geisiele Pereira Gomes – hoje, egressa do IFG –, sob orientação do professor Daniel Ordine Vieira Lopes, exploraram como a ciência que estuda a vida dentro e fora da Terra pode dialogar com disciplinas do currículo escolar.
Ciência que une mundos
A Astrobiologia é uma ciência jovem. Nasceu na corrida espacial, durante a Guerra Fria, quando surgiram preocupações sobre a saúde de astronautas e a possibilidade de vida além da Terra. De lá para cá, tornou-se um campo interdisciplinar: mistura Biologia, Química, Física, História, Filosofia, Sociologia e até Artes.
“Uma ciência sozinha não dá conta”, explica o professor Daniel. “Se vamos especular sobre vida inteligente, precisamos incluir também o que é inteligência ou como organismos "inteligentes" se relacionam e interagem com o mundo. Temos que aprender muito sobre como o ser humano faz essas coisas para poder imaginar outras formas de vida, daí precisamos de Sociologia, História, Filosofia, Artes e Linguagens”.
E essa complexidade é justamente o que torna a Astrobiologia tão interessante para o ensino. Se o curso Técnico Integrado em Biotecnologia do IFG/Câmpus Formosa já é reconhecido por integrar ciência de ponta à formação básica, a Astrobiologia abre espaço para conectar ainda mais áreas do saber.
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"Observar, questionar e investigar são atitudes que podem se tornar naturais" - Geisiele Pereira Gomes
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Do Big Bang às salas de aula
O projeto de pesquisa nasceu de leituras de referência, como o livro de Douglas Galante e outros autores, Astrobiologia – Uma ciência emergente, e documentos da NASA e ESA. As pesquisadoras estudaram temas que vão da formação das moléculas essenciais à vida até a busca por planetas habitáveis.
Mas a pesquisa não ficou apenas na teoria. A dupla desenvolveu propostas pedagógicas que aproximam a Astrobiologia das matérias do curso. Para as disciplinas de História e Sociologia, a proposta foram debates sobre guerras mundiais e o que significa a vida em diferentes contextos históricos; para Filosofia, discussões entre pensadores “pluralistas” (que acreditam em múltiplos mundos habitados) e “singularistas” (que defendem a Terra como única); e para Linguagens, reflexões sobre como seria a comunicação com seres extraterrestres – passando por idiomas, sinais, música, LIBRAS e até criação de personagens alienígenas fictícios para exercícios de comunicação. Essas propostas transformam o tema em aulas mais dinâmicas e criativas, que ajudam a fixar conteúdos difíceis.
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"Fazer um pesquisa no Ensino Médio me ajudou em muitas coisas, como um olhar diferente em todas as aulas que eu tinha", declarou Aitana D'arc Paschoal Lima
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Vida em condições extremas – e nos extremos da aprendizagem
A ciência já descobriu microrganismos que sobrevivem em ambientes extremos: calor dos gêiseres do Yellowstone, acidez intensa ou radiação. Eles são chamados de extremófilos e inspiram hipóteses sobre como a vida pode existir em planetas distantes.
De certa forma, as sugestões também se comportam como esses seres resistentes: elas crescem em ambientes desafiadores, reinventando a forma de ensinar e aprender. “A ideia era fazer com que essa interdisciplinaridade pudesse fazer os alunos enxergarem as coisas de uma forma diferente, integrando as áreas de conhecimento. A gente sabe que essas áreas de conhecimento na nossa vida não são separadas”, conta a estudante Aitana.
A ciência que nasce no interior goiano

O Câmpus Formosa já soma mais de 4.000 estudantes matriculados desde sua criação e tem enfatizado cada vez mais a pesquisa, por meio de programas como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), que financiam pesquisas científicas. Só em 2024, foram 20 projetos aprovados, envolvendo jovens em temas que vão da saúde pública ao meio ambiente.
Nesse cenário, a Astrobiologia não é apenas um estudo sobre estrelas e planetas: é uma metáfora da própria missão do IFG. Assim como os cientistas buscam vida em ambientes improváveis, os estudantes do interior do Brasil mostram que a ciência floresce em todos os cantos, basta haver curiosidade e incentivo.
O projeto resultou em materiais didáticos, roteiros de debates e propostas práticas que podem ser aplicados por outros professores. Mais que isso: deixou uma mensagem de incentivo para novos estudantes. “No decorrer do projeto, aprendemos muito sobre como os estudantes podem se aproximar da ciência de uma maneira mais fluida, não vendo apenas a utilidade de cada área nas propostas, mas também reconhecendo o quanto estão interligadas. Enfim, observar, questionar e investigar são atitudes que podem se tornar naturais”, destaca Geisiele.
Tem Ciência no IFG!

A Coordenação de Comunicação Social e a Gerência de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão (Gepex) do Câmpus Formosa trazem de volta, neste mês de setembro, a série Tem Ciência no IFG!. Neste segundo episódio, a estudante da terceira série (em 2025) do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Biotecnologia, Aitana D’arc Paschoal Lima, conta para todos a sua experiência com a pesquisa científica no Câmpus Formosa. Ela e a Geisiele Pereira Gomes foram as vencedoras do Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica (SICT) Local 2024 na categoria Ensino Médio. Três episódios da série ainda estão previstos para serem lançados semanalmente. Acompanhe!
--> Assista à entrevista sobre a pesquisa no canal IFG-Câmpus Formosa, no YouTube: https://youtu.be/QzkdnGsh3vg
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Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa
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